terça-feira, 29 de abril de 2008

terça-feira, 30 de outubro de 2007

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Desenho
80cm x 60cm
Desenho
100cm x 70cm

Desenho
184cm x 320cm


O Ano de 1993
"É agora necessário ir ao deserto destruir a pirâmide que os faraós fizeram construir sobre o dorso dos escravos e com o suor dos escravos
E arramar pedra a pedra porque faltam os explosivos mas sobretudo porque este trabalho deve ser feito com as nuas mãos de cada um"
in O Ano de 1993, 2º edição, Editorial Caminho, 1987

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Doloroso Nascimento de uma Primeira Palavra

"O Ano de 1993 é um livro de teor inesperado, intrigante, simultaneamente misterioso e sedutor na sua indecisão estrutural, na sua feição alegórica e na indecisão de caminhos interpretativos que pode abrir. Embora nenhum subtítulo o integre num género literário determinado, certas indicações do autor parecem situá-lo no domínio da poesia, e com efeito a sua estrutura, organizada em 30 partes (poemas ou capítulos), assenta na escrita versicular, que aliás encontrámos em alguns textos de Provavelmente Alegria; no entanto, há um fio narrativo sensível ao longo do livro, com movimentos de progressão e de clímax que apontam para uma urdidura novelística - sendo sobretudo perceptível a intenção fantástica que, hesitando entre um maravilhoso de índole profética e uma nítida tendência para a ficção científica, pela primeira vez organiza com coesão orgânica numa obra do autor esta fundamental convergência «deste mundo e do outro». Herda assim este texto da prática da crónica o tom sentencioso e a tendência moralizante (ou, pelo menos, judicativa) que irão persistir na sua restante obra; de algumas das melhores páginas dessa sua importante actividade de cronista, assim como da experiência lírica, traz ele também um veio poético, essencialmente expresso pelos processos metafórico e alusivo, que lhe comunicam uma funda capacidade evocativa; mas o seu mais importante sentido situa-se, a nosso ver, no esforço de transposição que pela primeira vez José Saramago pratica em relação ao tratamento do mundo, que já não é aqui abordado enquanto circunstância efectiva mas como formulação poética literal que, justamente por essa sua natureza poética, adquire uma significação humana, não só pela mensagem de conhecimento que se procura transmitir, mas também pela irradiação semântica multivalente que a criatividade verbal produz nos efeitos criados pela sua leitura. Assim, cria-se neste texto um mundo fantasmagórico, de tempo parado em «paisagem de Dali», com o Sol a afundar-se num poente irreal que provoca uma sombra corrosiva, devoradora do humano, na cidade que a peste invade e onde uma ocupação-repressão cruel e mecânica desfigura os seres e os leva a um refúgio doloroso no exterior; os gestos de ritual ganham proporções que certas páginas das crónicas já haviam indicado (...) e uma luta surda e tenaz se desenrola no sentido de se tentar a libertação, enfim conseguida, em relação a uma organização urbana de cerrada opressão e artificialismo de pesadelo, onde a escala humana é reduzida no sentido de uma réplica de Orwell, e a valorização do tempo se faz em função de uma reabilitação da natureza: sol-pôr / nascer do sol; morte / nascimento (mulher grávida, criança); silêncio / música ou grito / silêncio (quase sempre o silêncio resolve a antítese entre o vazio e a plenitude, na obra de José Saramago); o grande olho (mecânico, vigilância suprema e temível do ordenador) / o sol; morte / amor. A tarefa da libertação está confiada à massa dos habitantes («Ó este povo que corre nas ruas e estas bandeiras e estes gritos e estes punhos fechados enquanto as cobras os ratos e as aranhas da contagem se somem no chão» - e a circunstância efectiva de 1974 reabsorve por sua vez esta elaboração poética), conduzidos pelo homem que, extinto o fogo, ousa roubar a luz do Sol, e sancionada pelo par cujo amor é recebido pela árvore , «juntando a seiva e o sangue», e criando novos deuses: a montanha e o Sol - mas «definitivamente só ficou o rio porque os homens vão mergulhar nele as mãos e o rosto e têm estrelas nos olhos quando se levantam / Enquanto as águas por sua vez transportam ao céu e ao sol se o há a turvidão salgada das lágrimas e do suor / E as plantas verdes que dentro de água vivem estremecem sob o vento que traz aquele cheiro de homem a que a terra ainda não se habituou», 53. O rio, motivo tutelar da obra de José Saramago figura de certo modo o ritmo caudaloso e inestancável desta toada versicular, destas vagas de nostalgia e de impulso construtivo que, mais do que poesia lírica, apresentam talvez um fôlego épico (onde o sentido profético se insinua na sugestão de repetição dos transes do sofrimento social e nos sibilinos avisos de uma voz secular) que, aliado à urdidura novelística e ao encadeamento narrativo, fazem deste texto, a nosso ver, o grande pioneiro de uma concreta nova ficção na obra do autor; do que ele próprio parece aliás dar-se conta nestes versículos riquíssimos de sentido: «Talvez este silêncio seja o esforço abrindo os foles do pulmão prosaicamente abrindo ó sem poesia abrindo / Para começar o outra vez doloroso nascimento duma primeira palavra», 51."
SEIXO, Maria Alzira, O Essencial sobre José Saramago, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1987, págs. 22-25.



The Last of the Mohicans.mp3





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